Este é um blog que tem informações sobre a Educação Infantil.

Objetivo: ser mais uma ferramenta de apoio pedagógico para os professores os quais oriento pedagogicamente e por quem mais se interessar!

domingo, 24 de junho de 2012


Um  olhar sobre o Cuidar e educar na Educação Infantil

A educação Infantil dá inúmeros sinais da urgência de olhar para a situação atual e refletir possíveis rumos políticos, sociais e educacionais, tendo em foco o cuidado e a educação das crianças de 0 a 6 anos.
A realidade da educação infantil, dos novos paradigmas educacionais, torna essenciais ações e reflexões amplas e profundas como subsídios para avançar nas práticas cotidianas.
As instituições de educação infantil surgiram na França no século XVIII, em respeito à situação de pobreza, abandono e maus-tratos de crianças pequenas, cujos pais trabalhavam em fábricas, fundições e minas, criadas pela Revolução Industrial. Todavia, os objetivos e formas de tratar as crianças dos extratos sociais mais pobres da sociedade não eram consensuais. Setores da elite defendiam a idéia de que não seria bom para a sociedade como um todo, que se educassem as crianças pobres, era proposta a educação da ocupação e da piedade (OLIVEIRA, 1995).
A história de atendimento à criança em idade anterior à escolaridade obrigatória foi marcada, em grande parte, por ações que priorizaram a guarda das crianças. Em geral, a Educação Infantil, em particular as creches, destinava-se ao atendimento de crianças pobres e organizava-se com base na lógica da pobreza, isto é, o serviço prestados_seja pelo poder público seja por entidades religiosas e filantrópicas_ não era considerado um direito das crianças e de suas famílias, mas sim uma doação, que se fazia _ e muitas vezes ainda se faz _ sem grandes investimentos. Sendo destinada à população pobre, justificava-se um serviço pobre.
Antigamente, a escola de Educação Infantil tinha uma conotação assistencial, onde as crianças ali passavam o dia todo para que seus pais pudessem trabalhar. As monitoras passavam os dias olhando as crianças brincarem e era o professor quem ficava com o desenvolvimento intelectual planejado (quando havia planejamento). Nesse período, os papéis, dentro da instituição infantil eram bem claros: um cuidava e o outro educava.
Além dessas iniciativas, também as populações das periferias e das favelas procuraram criar espaços coletivos para acolher suas crianças, organizando creches e pré_escolas comunitárias. Para tal construíram e adaptaram prédios com seus próprios e parcos recursos, o que seguem fazendo na ausência do Estado.
Nesse longo percurso da história do atendimento à infância, pesquisas e práticas vem buscando afirmar a importância de se promover uma educação de qualidade para todas as crianças.
A constituição de 1998 representou um grande avanço, ao estabelecer como dever do Estado, por meio dos municípios, garantia à educação Infantil, com acesso pra todas as crianças de 0 a 6 anos a creches e pré_escolas. Essa conquista da sociedade significou uma mudança de concepção. A Educação Infantil deixava de se constituir em caridade para se transformar, ainda que apenas legalmente, em obrigação do Estado e direito da criança.
Tanto as pesquisas e os estudos quanto as pressões da sociedade civil organizada reafirmaram esses valores na LDB, promulgada em 1996, que considera a Educação Infantil a primeira etapa da Educação Básica.
A Educação Infantil está entre as prioridades do MEC, pois sabemos da im portância desse período para o desenvolvimento da pessoa em todas as suas dimensões: cognitiva, afetiva, corporal e social, tendo a sua autonomia. Nesse período, desenvolvem _se as capacidades da relação com o outro, a identidade, as atitudes de tolerância, o respeito às diversidades, na vida das crianças esse é um período profícuo para se ter acesso ao conhecimento.
NO que diz respeito à legislação brasileira, muitas foram às conquistas da Educação Infantil, considerando a criança como sujeito de direitos. A Constituição Federal de 1988 reconheceu a educação de crianças de zero a seis anos, anteriormente tida como assistencial, como direito do cidadão e dever do Estado e incluiu a creche no capítulo da Educação ressaltando seu caráter educativo. O Estatuto da criança e do adolescente (ECA/1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996), o Plano Nacional de Educação (PNE/2001) e o Estabelecimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil pelo Conselho Nacional de Educação (CNE/1998) reafirmam o princípio da Educação Infantil com direito.
Mas os avanços na legislação não foram acompanhados de uma política de financiamento para a Educação Infantil que permitisse uma expansão do atendimento por instituições públicas bem como sua qualificação. Nas décadas de 1970 e 1980 houve um crescimento do atendimento das crianças em creches filantrópicas, domiciliares e comunitárias, em geral pela ausência de política de Estado. No final dos anos 1990, a precariedade do atendimento público agravou_se com a implementação do fundef, que destinou recursos exclusivamente para o Ensino Fundamental. Para superar essa realidade, muitos municípios têm estabelecido convênio com organizações da sociedade civil por meio de repassa de recursos, muitas vezes sem a realização de um trabalho de acompanhamento e supervisão pedagógica.
Mesmo tendo a LDB determinado que todas as creches e pré_escolas existentes ou a serem criadas devessem ser integradas ao sistema de ensino até dezembro de 1999, em muitos municípios isso não aconteceu. Consequentemente prevalece o caráter assistencialista do atendimento.
O atendimento de zero a seis anos deve ser tratado como um processo contínuo, rompendo com antigas concepções de que nas creches (zero a três anos) deveriam predominar os cuidados com a higiene, a saúde e a alim entação, e de que nas pré_escolas (quatro a seis anos) se prepara à criança para o ensino fundamental.
A Educação Infantil não é um período preparatório para a escolaridade futura. Nessa perspectiva, o trabalho com a faixa etária de zero a seis anos envolve ações de cuidado e de educação de forma indissociável; assim, os sistemas de ensino devem organizar seus projetos pedagógicos articulando esses dois processos.
O trabalho com crianças de zero a seis anos pressupõe o cuidado e a educação como intrínsecos à relação cotidiana. De um lado as crianças necessitam dos cuidados essenciais ligados às questões de alimentação, vestuário, saúde, pelos quais todos os seres humanos são subjugados. De outro necessitam também da interferência imediata, em especial dos adultos, para a realização destes cuidados e outras tarefas do dia-a-dia. Essa interferência ocorrerá com maior ou menor intensidade à medida que o grau de autonomia (maturação física, emocional, afetiva) for se ampliando. Fica evidenciado que as atividades ligadas estritamente ao ato do cuidado são de extrema importância e que este ato não pode pretender-se desvinculado do processo de desenvolvimento, embora esta desvinculação tenha prevalecido (e ainda prevaleça) na concepção de atendimento às crianças. Isso se deve, sobretudo ao fato de que, historicamente, a função das creches esteve associadas à caridade, e essa visão foi por muito tempo reforçada pela e igreja e incentivada pela sociedade, de modo geral.
Oliveira, Vitória e Ferreira (1992) afirmam que no Brasil, por exemplo... até o início deste século, o atendimento em asilos e internatos, destinava-se basicamente a filhos de mães solteiras que não tinham condições de ficar com eles e criá-los. Isso gerava naquelas mulheres sentimentos de pecado ou de culpa, e o atendimento institucional a seus filhos era considerado um favor, uma caridade (p. 18).
Por conseguinte, entende-se que as unidades de educação infantil devem ir mais além da função de “guarda e cuidado”, ou seja, devem realizar um trabalho de forma planejada, organizando espaços adequados no sentido de estimular o processo de desenvolvimento (motor, cognitivo, emocional, social) das crianças. Cabe ressaltar, porém, que a instituição educativa não substitui a ação da família. Pelo contrário, se configura como um lugar de interação e socialização das crianças, complementar à ação familiar e que por isso necessita de uma relação de confiança e de responsabilidade entre ambas.    
A instituição infantil é um direito da criança e espaço onde ela possa sentir prazer em freqüentar, quem não pensa assim vê esse ambiente como tendo mero caráter assistencialista, no qual apenas o cuidar é focalizado; considera a instituição infantil freqüentada apenas por crianças que foram deixadas lá pela família. Tal visão deve ser superada porque se revela preconceituosa e sem fundamentação diante da realidade em que se encontra e que, cada vez, mais se procura trilhar, que é a de garantir espaço para que a criança possa ter seus direitos respeitados e, entre eles, o de viver a infância.
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de consciência, estabelecendo uma visão integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a diversidade, o momento e a realidade peculiares à infância. Desta forma, o educador deve estar em permanente estado de observação e vigilância para que não transforme as ações em rotinas mecanizadas, guiadas por regras. Consciência é a ferramenta de sua prática, que embasa teoricamente, inova tanto a ação quanto à própria teoria. Cuidar e educar implica reconhecer que o desenvolvimento, a construção dos saberes, a constituição do ser não ocorre em momentos e compartimentados. A criança é um ser completo, tendo sua interação social e construção como ser humano permanentemente estabelecido em tempo integral. Cuidar e educar significa compreender que o espaço/tempo em que a criança vive exige seu esforço particular e a mediação dos adultos como forma de proporcionar ambientes que estimulem a curiosidade com consciência e responsabilidade.
Embora existam situações no qual o modelo antigo ainda ocorra, que em determinados momentos há um responsável para cuidar e outro para educar, atualmente a discussão vai muito além dessa análise simplificada. Cuidar e educar, de acordo com as novas diretrizes, deve caminhar junto. Percebem-se nos dias de hoje e apoiado nos paradigmas emergentes da complexidade (DEMO, 2002; MORIN, 2002) e da visão sistêmica relacionada ao ser vivo (CAPRA, 2001; CAPRA, 2002; MATURANA & VARELA, 2001), o indivíduo como ser global, não fragmentado e não linear, em todos os momentos e em todas as situações, ou seja, cuidar educar contemplando de forma democrática todas as diferenças e, ao mesmo tempo, a natureza complexa do indivíduo. Plenamente entendidas e aplicadas, cuidar e educar caminha simultaneamente e de maneira indissociável, possibilitando que ambas as ações construam na totalidade, a identidade e a autonomia da criança. 
A ação conjunta dos educadores e demais membros da equipe da instituição é essencial para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de forma integrada. Essa atitude deve ser contemplada desde o planejamento educacional até a realização das atividades em si.
Em face de muitas dificuldades ainda existentes para a função do cuidar/educar como indissociável seja efetivamente assumida, tentando entender melhor essa temática, realizei uma pesquisa com as professoras Leidiane Cardoso e Hidazélia Macedo, para relatarem aspectos da prática cotidiana do cuidar e educar na educação infantil e de como essas ações devem ser trabalhadas.
Ambas relatam ter a consciência de que não existe educação sem afetividade, e de que é imprescindível que na Educação Infantil o educar esteja entrelaçado ao cuidar. Dessa maneira partem do pressuposto de que o cuidar e o educar se apresentam de forma indissociável no processo de construção do conhecimento e que o seu trabalho tem como objetivo o pleno desenvolvimento da criança.
Para elas essas ações no dia-a-dia se tornam muito difíceis principalmente pela falta de espaços, de recursos nas instituições infantis e também da falta de investimento na capacitação dos professores da educação infantil. Que por causa dessa precariedade sentem muitas dificuldades em unir educação e cuidado, mas acreditam também que apesar das barreiras são capazes de realizarem uma pratica que façam dos obstáculos uma luta por melhorias em seu trabalho,  fazem da sucata um a forte aliada e que buscam sempre o apoio da família, pois sabem da importância dessa, e que a  instituição não substitui a família, por isso, contam sempre com ela.
Afirmando-se responsáveis para garantir às crianças condições de cuidados associados a educação, sabem da importância que tem o cuidar e o educar.
È interessante ressaltar que ambas trabalham na mesma sala e que entre elas não existe a situação em que uma cuida e a outra educa, pelo contrario são tão responsáveis pelo cuidar como pelo educar.
Disseram que procuram trabalhar oferecendo condições para que ocorra a construção de conhecimentos, vivenciando o cuidar e o educar de forma mais efetiva, estabelecendo com a criança uma relação afetiva, quando  a ajudar a alimentar-se, a tomar banho , a vestir-se etc.
Que trabalham desenvolvendo na sala cantinhos que abrangem várias situações que propiciam estas ações de forma interligadas.
Também falaram das dificuldades que ainda encontram para vencerem a dicotomia existente no cuidar/educar, porque infelizmente ainda existe presente no cotidiano da instituição infantil o pensamento de que cabe a creche a função de cuidar e a pré-escola a de educar. E que sabem que ainda há muito que ser mudado para que a prática da Educação infantil seja permeada do cuidar e do educar.
Os estudos e a entrevista que realize a cerca desse tema me fez ver o quanto é urgente olhar para a situação atual da Educação Infantil e refletir possíveis rumos políticos, sociais e educacionais, tendo em foco o cuidar e o educar.
É notável a crise profunda de valores em que vivem as famílias hoje; a inadequação dos espaços das creches e dos centros de Educação Infantil; a falta de verbas; o excesso de crianças nas escolas públicas; o desnorteamento dos professores frente as políticas e diretrizes que, não raro, oscilam a cada gestão.
Sem recursos concretos os professores se deparam com questões complexas e muitas não sabem como auxiliar as crianças que as enfrentam, e que são tantas, como os casos de violência, situações do sono de alimentação inadequada, desequilibradas, que fazem com que os educadores se sintam desamparados em suas iniciativas.
A infância tem que ser vista como um momento de construção de conhecimentos e potencialidades emocionais, sociais, intelectuais, físicas, éticas e afetivas, entre outras. Nas instituições de Educação Infantil é importante oferecer condições para que isso ocorra, tendo em vista que nessa faixa etária as aprendizagens acontecem de forma integrada no processo de desenvolvimento, como fica claro no RCNEI.

“Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, ao conhecimento mais amplo da realidade social e cultural” (RCNEI, vol. 1; p. 23).

É imprescindível que a instituição de educação infantil ligue de forma significativa o cuidar e o educar, e não diferencie e nem hierarquize os profissionais e as instituições infantis.
Quando há um envolvimento entre quem cuida e quem é cuidado, a professora tem um meio através do qual é possível ler as diversas expressões das crianças, suas formas diferenciadas de comunicação, tornando o processo de educação e cuidado das crianças pequenas mais afetivas, intervindo no sentido de acolher e envolver a criança nos espaços educativos, contribuindo para o desenvolvimento em sua totalidade, fazendo-se necessário a indissociabilidade entre cuidar/educar, tornando a parceria com a família o diferencial na formação do educando.
É importante que a instituição infantil não seja pensada como substituta da família, mas como ambiente de socialização diferente da família, que alem de presta cuidados físicos, ela cria condições para os seus desenvolvimentos cognitivos, simbólicos, social e emocional; que são equipamentos educacionais e não apenas de assistência; que integram funções de cuidar e educar. Nela se dá o cuidado e a educação de crianças que aí vivem, convivem, exploram, conhecem, construindo uma visão de mundo e de si mesmas, construindo-se como sujeitos.
Portanto, é preciso mudar essa concepção que cabe às creches a função assistencialista e às pré-escolas as de caráter educacionais; as crianças não são maquinas nem destituídas de sentimentos, onde um professor pode trabalhar somente com o intelectual e um outro com a assistência relacionada ao cuidado, e, por conseguinte acabar com a dicotomia cuidar/educar.
Para promover o desenvolvimento das crianças é preciso muito mais do que isso, o educador em todos os momentos deve estar em permanente estado de observação e vigilância para que não transforme as ações em rotinas mecanizadas, guiadas por regras, mas sim sentir e proporcionar às crianças de forma afetiva e prazerosa, momentos que lhe façam crescer, refletir e tomar decisões direcionadas ao aprendizado com coerência e justiça, tornando-se aptas a viverem em sociedade, o que não é tarefa fácil.    



             
 
 


  
REFERENCIAS

ALMEIDA, A.C. Currículo da pré-escola e formação do educador em serviço. Anais da 17ª Reunião Anual da ANPED: Caxambu, 1994.


BRASIL. Referencial curricular para a educação infantil. V. 1, Brasília: MEC/SEF, 1998.

BUJES, M. I. E. O pedagógico na educação infantil: uma releitura. Anais da 21ª Reunião Anual da ANPED: Caxambu, 1998.

CAVICCHIA, D. de C. Formação Continuada de educadores para interação creche / pré-escola num programa de cooperação universidade prefeitura. Anais da 17ª Reunião Anual da ANPED: Caxambu, 1994.

COUTINHO, Ângela Scalabrin. As crianças no interior da creche: a educação e o cuidado nos momentos do sono, higiene e alimentação. Florianópolis, SC. Dissertação de Mestrado. UFSC – 2002.

OLIVEIRA, Z. de M. R. Educação infantil: muitos olhares. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 1995.


Nenhum comentário:

Postar um comentário